“Dá vontade de pular, Jorge. Pulsão de morte, acho que é assim que ouvi uma vez. Vontade de pular. Irresistível. Certa. Na verdade a pulsão não é de morte, é de voo. O que temos à beira de um abismo, no parapeito de um arranha-céu é uma vontade incontrolável de voar. Mesmo que saibamos que não podemos fazer isso, alguma coisa dentro da gente nos impulsiona. Pulsão de voo. Mas a queda é inevitável. Talvez por isso não seja muito bom ficar demais em lugares altos. Você tem medo de altura, Jorge? Existem pessoas que têm fobia de altura. Eu sou uma delas, você sabe. Mas o que é a fobia se não um fascínio do que não se pode suportar, pois é algo maior do que a gente, por isso toma conta, nos extravasa. Um escuro que dá vontade de entrar, mesmo se ouvindo ecos de dentro dele. Encarar os medos. Encarar a morte. Encarar o voo. Encarar o alto. Encarar pessoas. Encarar baratas. Esse voo é na verdade a vontade de matar a fobia. Dominar a fobia. Matar o medo. Matar a morte. Matar o alto. Matas as pessoas. Matar as baratas.”
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